quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O dia em que o Observatório de Valongo registrou um OVNI

As informações abaixo foram extraídas do Livro "A Conquista do Espaço" (1960) p. 71-4 cuja autoria é de Júlio Minhan. O que me chamou a atenção foi a precisão de algumas informações dos astrônomos Mário Dias e Luiz Eduardo Machado, ambos do Observatório do Valongo. Cabe verificar se o Observatório ainda possui este relatório em seus arquivos. Júlio Minhan menciona a data "segunda-feira, 13 de junho de 1959", mas há um equívoco. Segundo informações do Boletim Informativo nº 11 da SBEDV, o avistamento feito pelos astrônomos do Observatório de Valongo ocorreu em 13 de julho de 1959. O Boletim cita também o jornal "Tribuna da Imprensa" edição de 14 de julho de 1959. Vejamos então, com detalhes, o relato do avistamento:

d) O caso mais concreto foi, sem dúvida alguma, o presenciado e divulgado por astrônomos do Valongo na segunda-feira, 13 de junho [sic] de 1959. Lemos como foi descrito o fenômeno:

"O Capitão Sílvio Vaz, professor da Escola Técnica do Exército, encontrava-se, às 22 horas de ontem, no Observatório de Valongo, da Escola Nacional de Engenharia, quando avistou um "disco voador" deslocando-se das proximidades da estrêla Gama Grou na direção da constelação do Índio. Imediatamente, correu ao telescópio, e, em companhia dos astrônomos Mário Dias Ferreira e Luiz Eduardo Machado, acompanhou a trajetória do disco.
A ôlho nu, segundo revelaram depois, o "disco voador" era três vêzes maior do que o planeta Júpiter. Tinha a forma de uma Cruz de Malta, encimada por uma cúpula de aspecto metálico. Nos braços da cruz, divisava-se como que um jôgo de lâmpadas verdes, como as usadas pelos navios. Expelia um jato das extremidades, o qual correspondia a um têrço do seu tamanho.
Visto dirigindo-se para a constelação do Índio, às 22 horas, foi observado, ao telescópio, o rumo do "disco voador". Seguiu para a constelação do Pavão e passou entre as estrêlas Alfa e Gama, do Cruzeiro do Sul (22h 20m). Rumou para a constelação de Arcus [sic] (22h 30m), quando desapareceu no horizonte.
Dêste modo, em 30 minutos, o "disco voador" foi notado percorrendo tôda a abóbada celeste. Não foi observado nêle movimento de rotação, mas sòmente de translação.
A atenção do capitão Sílvio Vaz foi despertada para a zona onde o corpo estranho se movia, porque se tratava de campo de astro. Na posição em que o disco foi visto pelo oficial, não podia estar localizada estrêla alguma até agora conhecida.
Vale ressaltar que é a primeira vez no mundo em que um "disco voador" é avistado de um Observatório. Todavia, devido à rapidez com que percorreu a trajetória, não foram feitas fotografias".
Não era possível um engenho, pois, além do capitão Sílvio, viram êste objeto os astrônomos Mário Dias erreira e Luiz Eduardo da Silva Machado e mais quatro homens, dois soldados da Polícia Militar e dois serventes do Observatório.
Os astrônomos citados enviaram à FAB um relatório que assim descreve o objeto: "O objeto apresentava-se no campo da luneta com o aspecto de um disco com uma saliência cônica na parte central e um jôgo de luzes verdes, separadas, formando, òticamente, uma "Cruz de Malta" com seis luzes em cada braço, totalizando 24 focos de luz esverdeada. O objeto não poderia, pelas suas características e deslocamento, ser confundido com qualquer corpo celeste conhecido.
A cúpula do objeto tinha um aspecto metálico e o jôgo de luzes verdes era semelhante à sinalização dos mastros dos navios. O "disco" emitia, também, um jato alaranjado de suas extremidades, dando, a ôlho nu, a impresão de que partiria em duas partes.
Os astrônomos foram unânimes em afirmar que o objeto estaria, pelo menos, a mais de 30 quilômetros de distância da Terra. Estaria, também, dentro das últimas camadas atmosféricas, pois, do contrário, as dimensões da "nave interplanetária" não seriam tão detalhadamente focalizadas pelo telescópio.
Outros detalhes: o jato alaranjado observado não era propulsor e sim, meramente luminoso. Teria função sinalizadora e assemelhava-se a um foco de holofote com luz variável entre o vermelho e o amarelo. Era emitido com certo intervalo de tempo".
[...]
"O mesmo "objeto voador" visto por três astrônomos do Observatório do Valongo, e detalhadamente observado durante 20 minutos, através de duas lunetas telescópicas, foi visto, também, por funcionários da tôrre de contrôle do aeroporto Santos Dumont, no mesmo horário, das 22h 10m às 22h 30m. O "disco", que se deslocava de Este-Nordeste para Oeste-Sudoeste, num rumo de 70 para 250 graus, teve sua trajetória acompanhada de binóculo por um observador da tôrre. Surgira pelo meio do campo, em vertical, desaparecendo por trás das montanhas do Alto da Boa Vista. Calcula o funcionário que o ponto luminoso, emitia uma luz azul-alaranjada, desenvolvida velocidade extraordinária, pois vencera todo o arco de sua trajetória em apenas 20 minutos.
[...]
... O fenômeno teve lugar e o erudito vice-diretor do Observatório Nacional, Dr. Muniz Barreto, mesmo sem acreditar ainda nos "discos voadores", assim o comentou: "É um fenômeno difícil, êste, de ser constatado. Teria primeiramente de ser registrado a ôlho nu, para depois serem sintonizados os aparelhos. Pessoalmente, só acredito na existência de tais objetos, vendo-os. Isto não quer dizer, todavia, que esteja pondo em dúvida a afirmação dos astrônomos Mário Dias, Sílvio Vaz e Luís Machado. Ao contrário, suas opiniões são abalizadas e devem ser postas acima de qualquer dúvida." Apesar de tudo isso, um membro do Conselho Técnico da Sociedade Interplanetária, que viu o mesmo objeto, disse que era um balão!
[...]
 O certo é que o astrônomo Dias afirma que não era balão: "Vi-o pelo primeira vez a ôlho nu e, posteriormente, com um telescópio de 200 vezes de aumento. Afirmo, pois, convicto, que o objeto avistado não era um balão.
- Éramos sete observadores no morro do Valongo, dois dos quais acompanharam o objeto a ôlho nu. Com nossa luneta, de 200 de aumento, fàcilmente reconheceríamos um balão. Ademais, à tarde, o vento predominante é o sudoeste - de sul para este - e o objeto estava-se deslocando em direção exatamente contrária à do vento. Não podia, por conseguinte, ser um balão".

Complementos em abril de 2014:

a) Reportagem do Jornal do Brasil de 14 de julho de 1959 sobre o episódio:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015_07&PagFis=104120

b) Reportagem do Última Hora:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=386030&PagFis=55515

c) Reportagem do Correio da Manhã:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_06&PagFis=108280



7 comentários:

  1. A constelação de "Arcus" provavelmente se refere ao Argo Navis. No entanto após a delimitação das constelações na década de 1920, a constelação do Argo Navis foi repartida em Carina, Vela e Popa. No esboço acima marcamos a posição de Carina e Vela.
    Se o objeto de fato teve uma trajetória suave, ele desapareceu no horizonte local nos limites das constelações de Centauro e Hidra. É possível que os observadores tenham confundido a parte noroeste do Centauro como sendo ainda a região do antigo "Argo Navis".

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  2. Parece que o Observatório do Valongo desconhece seus próprios registros. Em matéria para o Globo Ciência de 24/nov/2012 o astrofísico Hélio J. Rocha Pinto não mencionou nada acerca do avistamento feito por astrônomos da mesmíssima instituição em 13 de julho de 1959.
    URL do vídeo: http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-ciencia/v/ovnis-nao-existem-integra/2255881/

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  3. Prezados Senhores.
    Realmente o Observatório de Valongo desconhece(ou desconhece") este fato.Eu soube dele através de um anexo ao livro "Discos-Voadores Imprevisíveis e Conturbadores" de Felipe Machado Carrión, mas onde-equivocadamente- foi também publicado de forma resumida.Consegui o microfilme original da matéria da Tribuna da Imprensa. de 14 de JULHO de 1959.
    Estando a juntar subsídios para um artigo definitivo sobre este caso, tentei em vão obter não o registro do caso,mas dados sobre os três astrônomos envolvidos,já que tinha a história toda,tornada pública pelo referido jornal. Entretanto, percebi que tanto no Observatório Nacional, como no de Valongo, o meu contato caiu-lhes como uma bomba nas mãos.Recusaram-se a fornecer dados biográficos dos três, sob alegação de que teiam de consultar um arquivo morto e não tinham funcionário especializado.Hoje ,graças a V.Sas., nao só tenho melhores informações, graças a Deus sem esses ilustres imbecís contemporâneos,como també m tenho o boletim da SBEDV em forma digitalizada,graças ao esforço do ufólogo Carlos Alberto Machado (Curitiba) que digitalizou mais de 60 que encontrou (por sorte) numa biblioteca de Curitiba.Uma das coisas escandalosas, foi a informação loacônica do MAST de que nenhum dos 3 havia trabalhado ali, no MAST.Quer dizer: pegando um gancho de um pedido de informações de uma cartqa circular, se conheciam ou haviam trabalhado ali (ON,OV e MAST) o energúmeno do MAST tentou livrar-se de mim com esta.Em suma, nenhumn funcionário seja do ON,seja do OV ou do MAST foi capaz de dar informações desses três ilustres astrônomos, base da Astronomia do Brasil.Um dos que me escreveram, assim meio sem jeito, foi o astrônomo Marcomede Rangel Nunes,que depois-fiquei sabendo tem prestígio (faleceu não há muito tempo) mas era ligado ao Sr,Ronaldo Rogério Mourão um dos arqui-inimigos da ufologia no Brasil.Ambos, comprovam
    o que está no "O MIto da Neutralidade Científica" de Hilton Japiassu: o desserviço que causam ao saber como um todo,as simpatias, ou antipatias descontroladas por algum assunto, por azar -deles e nosso-relevante.

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  4. Segue comentário de Ronaldo Mourão sobre este episódio. As informações foram publicadas em "O que é ser astrônomo" (2005) páginas 113-4:

    "Os nomes desses três professores, todos astrônomos, não interessam. Em dado momento eles notaram algo que se movimentava ao longe: um objeto circular, de altura menor que o diâmetro, e - coisa esquisita - com uma luzes dispostas de modo a formar uma cruz de Malta. Num salto agarraram o telefone, ligaram para o jornal O Globo e pediram a presença imediata de um fotógrafo, para registrar o "disco voador" que os seus instrumentos focalizavam. Pelo critério dos referidos professores e astrônomos, observatório que se preza precisa da colaboração de um bom jornal vespertino.
    No dia deguinte, os jornais estamparam na primeira página a confirmação de que os discos vadores existiam. As rádios estavam repletas de notícias sensacionalistas acerca dessa nova visita de um disco voador, agora com a chancela de três nomes respeitáveis, sendo um deles catedrático da Faculdade Nacional de Filosofia. As estações de rádio foram buscá-los para momentosas entrevistas, e numa delas o mais loquaz dos "observadores" chegou a afirmar, com a maior ingenuidade, "que era homem que acreditava em tudo, e que há mais de dois anos vinha dormindo no terraço de sua casa, numa cama de armar, sempre de barriga para cima, com os olhos fitos no céu, a fim de assegurar boa probabilidade de ainda vir a ver um disco voador".
    O diretor da revista Ciência popular, que vinha combatendo a ufologia e a astrologia nas páginas de sua revista, aproveitou a ocasião para dar entrevistas aos jrnais informando que o disco na forma de uma cruz de Malta era um balão que fora lançado para comemorar o empate do Vasco da Gama com o Flamengo naquela noite, numa partida que parecia perdida.
    Esse lamentável engano seria utilizado mais tarde por Lélio Gama para se defender das diversas investidas que a sua administração iria sofrer durante o governo de Jânio Quadros, de João Goulart e, finalmente, durante o regime militar."

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Este comentário do Sr.Mourão não é comentário é CAÇOADA."Os nomes não interessam",como assim?São simplesmente fundadores da astronomia brasileira,não ele,Mourão. Basta que se entre no Google em imagens de balões de qualquer tipo (sobretudo os de ar quente) eNÃO SE ACHARÁ NENHUM TÃO ACHATADO. a bucha ficaria perigosamente perto do topo da cúpula ou abóbada do balão.Mas então, ele,Mourão tem (ou teve)recursos suficientes para mandar duplicar um balão semelhante, que psseie sem rotação ou oscilação pelos céus e COM BRILHO TRÊS VEZES SUPERIOR AO PLANETA JÚPITER e que se mova contrário ao vento daquela hora.O Sr. Mourão é velho conhecido de nós ufólogos, com seus "comentários" semopre desqualificadores.Cortam propositadamente aspectos que contrdizem suas "teses" para que elas se verifiquem.No caso deste..."balão", falta a demonstração:qual seja identificar quem soltou o tal balão,pelo menos algum indício levantado por investigação; tentar fazer um igualzinho que apresente as mesmas características.Sem isto,este comentário assume o ar de fofoca destrutiva,para não dizer cruel.Ademais, soltar um balão deste tamanho para comemorar...UM EMPATE???!!! Então os nomes interessam sim:Mário Dias Luiz Eduardo Machado e Sílio Vaz.Não vemos aqui nenhum "lamentável engano".Vemos,sim uma lamentável falta de respeito e ética profissional.Quanto à figura de Lélio Gama, vejo-a aqui como Pilatos no Credo.O uso deste episódio,por este senhor, para defender-se de escaramuças profissionais, dá ao comentário o ar de disse-que-me-disse.Infelizmente o serviço público é cheio dessas coisas,muito mais do que no setor privado.

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